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O verão no Hemisfério Norte começou. Como já é comum nesta época do ano, as ondas de calor que atingem a Europa Central e Ocidental estão elevando as temperaturas muito acima dos padrões sazonais.
A temperatura de países como Espanha, França, Itália e Portugal está superando marcas históricas, passando dos 40ºC. O aquecimento intenso no continente europeu em junho e julho é resultado de uma combinação de fatores. Durante o verão, os dias são mais longos e o clima fica mais seco, além disso, ventos do norte da África ficam retidos, formando um “domo de calor” – sistema de alta pressão atmosférica que atua como uma tampa –, enquanto os que vêm do Mar Mediterrâneo contribuem para a elevação da temperatura.
Essas características estão ficando cada vez mais intensas, por conta das mudanças climáticas. Como consequência, as ondas de calor ficam mais frequentes e duradouras. Esse clima extremo coloca em dúvida a resiliência econômica da Europa. De acordo com o relatório Allianz Trade “What to Watch”, as perdas totais estimadas no Produto Interno Bruto (PIB) do continente podem atingir 0,5 pontos percentuais (p.p.) em 2025 e 0,6 p.p. no crescimento global.
Altas temperaturas, altas consequências
Segundo economistas da Allianz Research, Ludovic Subran, Jasmin Gröschl e Hazem Krichene, o PIB de Espanha, Itália e Grécia deve recuar quase 1 p.p. cada, devido à atual onda de calor. Enquanto a queda deve ser menor na França, com expectativa de decréscimo de 0,3 p.p.
O PIB da Espanha, por outro lado, pode ser um dos mais prejudicados, ao recuar 1,4 p.p., seguido por Itália (1,2 p.p.) e pela Grécia (1,1 p.p.). Já na Alemanha, o impacto deve ser menor, estimado em apenas 0,1 p.p.
No domingo (29), o serviço meteorológico nacional espanhol, AEMET, mostrou que a cidade de El Granado registrou temperaturas máximas de 46 °C. Esse é um novo recorde nacional para junho. Já em Portugal, 46,6 °C foram catalogados em Mora — cidade próxima a Lisboa —, segundo o serviço meteorológico do país, o IPMA. A medida também representa uma máxima histórica para o mês.
Em Aude, no sudoeste da França, um incêndio queimou quase 160 hectares. Na Turquia, 50 mil pessoas foram deslocadas, enquanto os bombeiros combatiam queimadas nas províncias ocidentais de Izmir e Manisa. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), globalmente, o estresse térmico pode diminuir o total de horas de trabalho potenciais em 2,2%.
Outro estudo publicado no International Journal of Biometeorology mostra que a capacidade de realizar trabalho físico pode cair aproximadamente 40%, quando as temperaturas atingem 32°C, o que equivale a meio dia de greve em termos de impacto econômico. Já quando os termômetros marcam 38ºC, a produtividade recua dois terços.
Em 2021, foram perdidas 470 bilhões de horas potenciais de trabalho — um aumento de 37% em relação à média anual entre 1990 e 1999, com 139 horas perdidas por pessoa, conforme relatório do Lancet Countdown 2022. Além de afetar o tempo de trabalho, as queimadas causam a perda de propriedades, terrenos, casas e trabalhos.
Neste cenário, o PIB de países desenvolvidos tende a sofrer menos ou sequer é afetado, dependendo do tamanho da devastação. O mesmo não se aplica a nações cuja economia não é tão consolidada, já que seus habitantes – especialmente os de baixa renda – estão mais vulneráveis às ondas de calor, considerando a qualidade das moradias e o acesso limitado ao ar-condicionado.
Mudanças
De acordo com os autores da pesquisa, a adaptação é fundamental nesse cenário. Algumas estratégias podem mitigar os riscos à saúde e às perdas de produtividade. Embora a eficácia dessas medidas dependa dos contextos locais, muitas delas demonstram ser economicamente viáveis.
No curto prazo, alertas de prevenção podem ser implementados, a otimização dos horários de trabalho, como atuar nas primeiras horas da manhã ou no início da noite também podem ser viáveis. O estudo recomenda utilizar mecanismos de resfriamento durante o dia.
Já a longo prazo, o planejamento urbano com consciência climática e modificações na estrutura dos edifícios são mais eficazes para lidar com temperaturas elevadas, enquanto o uso de ar-condicionado pode ser uma solução para dias mais quentes, desde que haja eletricidade acessível, confiável e limpa.
Essas melhorias podem reduzir as horas de superaquecimento interno em média 8,6%, chegando a 15,3% nos prédios mais vulneráveis. Além disso, a incorporação de sistemas de telhados verdes pode melhorar o conforto térmico, diminuindo as temperaturas internas em até 0,5°C.
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