Petrobras: Fundamentos Justificam Queda das Ações Pós-balanço?

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Na última sexta-feira (9), um dia após divulgar o balanço do segundo trimestre, as ações da Petrobras caíram cerca de 6%, fazendo com que o estatal perdesse R$ 32 bilhões em valor de mercado. O movimento foi impulsionado pelo anúncio de dividendos abaixo do esperado. Horas depois, em um evento, a presidente Magda Chambriard reagiu: “Quem apostou contra a Petrobras vai perder dinheiro.”

A estatal registrou lucro líquido de R$ 26,65 bilhões no período , revertendo o resultado negativo de R$ 2,6 bilhões obtidos no mesmo trimestre de 2024. A produção avançou 5% no trimestre, mas a frustração dos investidores veio com o valor dos dividendos: R$ 8,7 bilhões, cifra abaixo das projeções — que iam de R$ 10,9 bilhões a R$ 11,9 bilhões.

Na divulgação, Magda destacou que a Petrobras está acelerando investimentos em projetos de alta atratividade, algo que nem sempre agrada aos investidores, que preferem ver a receita “extra” sendo distribuída aos acionistas em vez de reinvestida. No primeiro semestre, foram R$ 48,8 bilhões destinados a investimentos, alta de 49% ante 2024. O aumento do volume de investimentos explica, em parte, a redução dos dividendos e o descontentamento de uma parcela dos investidores.

Para parte dos analistas, a Petrobras apresenta fundamentos sólidos, mas afirma que a “profecia” do chefe da estatal é correta não é tão simples. Eles alertaram que a distribuição de valor ao acionista ficou aquém das expectativas, especialmente em um ano de forte desvalorização das ações — com um retorno superior a 16%. Resumindo: o mercado tende a penalizar os papéis com mais força. 

Por dentro da Petrobras

Embora não tenha impacto direto sobre os resultados apresentados neste último trimestre, vale relembrar como foram as contas de 2024 da companhia — e que não é a primeira vez que o debate sobre volume de investimentos e dividendos ganha a cena. Ele tem sido frequente desde a virada do governo, em 2023. 

No ano passado, o lucro líquido foi de R$ 7,5 bilhões, valor que representou queda de 70,6% no comparativo com 2023. A explicação para esses números, à época, estava relacionada principalmente à variação cambial em dívidas entre a Petrobras e suas subsidiárias no exterior. Outros fatores para o desempenho foram a desvalorização do Brent (barril de petróleo utilizado como referência na política de preços da companhia), a diferença entre o preço do petróleo bruto e o do diesel, a transição tributária federal e o volume de produção de petróleo.

Neste ano, o único vilão do passado que segue assombrando o balanço é a desvalorização do Brent. Do lado operacional, as coisas parecem ter avançado neste trimestre: neste último trimestre, um fator que ainda influencia as contas é a desvalorização do Brent. De resto, a produção bateu recorde, os custos operacionais são mais baixos e a execução segue afiada. É o que apresenta relatórios do BTG Pactual, JP Morgan, Itaú BBA, XP, Citi e Genial.

Tropeço ou desalinhamento de expectativas? 

Do ponto de vista operacional, tudo certo. A produção subiu 5% em relação ao trimestre anterior, impulsionada pelo pré-sal, e o custo de remoção caiu para US$ 3,83 (R$ 20,6)  por barril devido a “menos intervenções em poços, menores gastos com inspeção submarina e redução de custos logísticos”, detalhou o Itaú BBA. O EBITDA ajustado, de R$ 57,9 bilhões, ficou em linha com o consenso — um feito no cenário de Brent 10% mais barato do que o do último trimestre.   

O que acontece é que, assim como  em 2024, os investimentos seguiram robustos neste último trimestre. No ano passado, foram R$ 91 bilhões. De abril a junho deste ano, R$ 25,1 bilhões investidos, elevando o total do semestre para R$ 48,8 bilhões. Ou seja: o ritmo não arrefeceu. Segundo relato do JP Morgan, 48 poços já foram conectados até julho — mais do que em todo o ano passado.

Para o mercado que se mostra “decepcionado” com os números, as características atuais da caixa e o crescimento da dívida são o problema. O fluxo de caixa livre foi de R$ 19,2 bilhões, abaixo das projeções de praticamente todos os bancos, já que o fluxo de caixa operacional mais baixo e o capex mais alto pressionaram os números. Com isso, o dividendo ordinário caiu para R$ 8,7 bilhões, num rendimento de ~2%, frustrando quem esperava algo mais próximo de R$ 12 bilhões.

O Citi chamou atenção para o aumento da dívida bruta para US$ 68 bilhões (R$ 366,6 bilhões), “pela primeira vez acima de US$ 65 bilhões (R$ 350,5 bilhões) em muito tempo”, embora ainda bem abaixo do teto de US$ 75 bilhões (R$ 404,4 bilhões) definido pela própria empresa para o ano corrente. 

A lógica é a seguinte: se, por um lado, o foco no segmento de exploração e produção agrada, por outro, maiores símbolos com investimentos pressionaram a geração de caixa da empresa e, consequentemente, a sua capacidade de distribuir dividendos. No fim do dia, parece existir um desalinhamento entre a expectativa de quem espera dividendos gordos e o desejo da estatal de ampliar sua produção — não só de petróleo. 

Há um mal-estar, por exemplo, com o anúncio da volta da empresa ao mercado de GLP, aprovado pelo conselho de administração. O mercado não vê consenso nessa investida. Vale lembrar que a Petrobras abriu a mão da Liquigás em 2021, distribuidora de gás de cozinha que, sozinha, detinha 21,4% do mercado e estava presente em todos os estados, com 4,8 mil vendedores no país. Ou seja, não se trata de um pequeno negócio.

O que ninguém sabe até agora, e tampouco foi divulgado, é como será essa retomada. O que se esperava — e não foi concretizado — eram os parques eólicos offshore, que continuam sem papel.

Para Daniel Utsch, da Nero Capital, o ruído no mercado se deu pelo fato de que esta não era uma implantação do Plano Estratégico dos próximos anos. Os analistas lembram ainda que a atividade tem baixa margem e envolve riscos regulatórios e operacionais. O Itaú BBA ressalta que o mercado mudou desde a venda da Liquigás e que a Ultrapar, via Ultragaz, é hoje o player dominante e pode ser impactada.

“A priori, vemos essa decisão como negativa para a tese da empresa, tendo em vista seus esforços de desverticalização após anos de investimentos ruínas em diversos negócios fora do seu núcleo: exploração e produção de petróleo”, escrevem os analistas da Genial.

Quem vendeu vai se arrepender? 

Com base no que foi divulgado pelos principais bancos de investimentos no pós-balanço, é possível afirmar que os fundamentos da petroleira seguem sólidos, com operação afinada, portfólio de ativos robustos e uma avaliação atraente. “O aumento no SG&A (despesas administrativas, de vendas e gerais) impressiona, mas não assusta nem afeta a tese da empresa de maneira permanente”, cita a Genial, reforçando seu entusiasmo com os papéis.

O BTG aposta até em reprecificação positiva: “A base robusta de ativos da companhia, sua estrutura de baixo custo, o atrativo rendimento de dividendos e o potencial de revisões positivas nos lucros continuam reforçando nossa posição contra o consenso do mercado.”

Embora reconheça que há justificativa para a queda das ações devido aos resultados e ao anúncio da possível retomada do GLP, Daniel Utsch, da Nero Capital, destaca a relevância da estatal no pagamento de dividendos: “Quando olhamos para um horizonte mais longo, o nível de valuation é muito baixo, algo como quatro vezes o lucro. Uma empresa que pode pagar 45% do fluxo de caixa em dividendos pode oferecer um retorno muito relevante. Por isso, ainda faz sentido dizer que a ação não é cara.”

Ao que parece, a queda bilionária no valor de mercado foi menos um veredito sobre a saúde da Petrobras e mais um lembrete de que, para um investidor acostumado a dividendos gordos, qualquer redução na régua de pagamentos soa como alerta. Com isso, ao menos por agora, a declaração do CEO da petroleira pode parecer rude, mas não denota, aparentemente, mentira. Mas como o mercado de ações é mais uma maratona do que uma corrida de 100 metros rasos, ainda é cedo para declarar um vencedor.

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