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Todos os olhares da Faria Lima estavam voltados para Kuala Lumpur, na Malásia, no último domingo (26). Entre um compromisso e outro em sua passagem pelo Sudeste Asiático, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu com o presidente americano Donald Trump, redesenhando o cenário macroeconômico local
O encontro de um chefe de Estado brasileiro com o comandante da primeira maior economia do mundo já seria suficientemente importante em condições normais. Na situação atual, em que Brasil e Estados Unidos travam uma guerra comercial, ela ganha uma importância ainda maior.
Está em vigor desde o dia 6 de agosto tarifas de importação de 50% sobre produtos brasileiros — com apenas um punhado de isenções. Na época, o governo americano mencionou existir um déficit comercial entre as duas nações, além de discordâncias com relação a decisões proferidas pelo sistema judiciário brasileiro. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC brasileiro disse monitorar os impactos da medida na economia.
Lula e Trump já haviam se encontrado rapidamente no mês passado, durante a abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Na época, Trump havia chegado a declarar que havia “pintado um clima” entre os dois presidentes. Para o Brasil, o novo encontro era estratégico: uma oportunidade única para conseguir fazer com que as tentativas de acordo comercial fossem, no mínimo, consideradas.
O encontro
O encontro entre os dois presidentes aconteceu ontem (26) e teve duração de quase uma hora. Eles estavam no país para participarem da 47ª reunião de cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático). O principal ponto de discussão foi a penalização tarifária ao Brasil.
Nesta segunda-feira (27), Lula afirmou que Trump “garantiu” que os dois países chegarão a um acordo comercial.
“O compromisso que ele fez é que ele pretende fazer um acordo de muita boa qualidade com o Brasil. Isso está muito registrado na minha cabeça e na cabeça dele”, disse Lula aos jornalistas.
A declaração não foi confirmada pelo americano. Trump disse apenas que teve uma “boa reunião” com Lula e disse não ter certeza sobre a conclusão de um acordo comercial, “mas veremos”.
Preço no mercado? Não é bem assim
Nesta segunda-feira, a bolsa brasileira opera em alta moderada de cerca de 0,60% desde o início do dia, se consolidando acima dos 147 mil pontos. Enquanto isso, o dólar americano recua 0,22%, aos R$ 5,3770.
Apesar do movimento coincidir com o avanço nas relações diplomáticas e comerciais entre os dois, o tom moderado do mercado mostra que há cautela nas expectativas de que o encontro amigável entre os dois se torne um acordo comercial robusto.
“O Brasil tem uma economia muito fechada e, portanto, muito ligada ao que acontece aqui dentro, com pouca interferência do comércio internacional”, afirma Luis Garcia, diretor de investimentos da SulAmérica Investimentos. ” Sendo assim não vejo nenhum efeito relevante na atividade, inflação e mesmo nos ativos brasileiros pelo canal da economia”.
Para Ricardo Trevisan Gallo, CEO da Gravus Capital, o encontro representa um passo necessário para desescalar o atrito que, apesar de ter tido um impacto menor do que o esperado na bolsa e no dólar, impactavam os setores exportadores.
“Para os mercados, trata-se de uma oportunidade — não de uma solução automática. A materialização de benefícios dependerá de negociações técnicas bem estruturadas e, sobretudo, da capacidade do Brasil de transformar essa janela diplomática em sinais concretos de previsibilidade econômica”, aponta Gallo em nota.
Rafael Passos, sócio-analista da Ajax Capital reforça que o maior impacto positivo nos ativos locais se deu quando os Estados Unidos voltou atrás na alíquota de diversos produtos do qual é dependente das importações brasileiras. “Hoje, pouca coisa muda. É mais o lado diplomático que se favorece. O que surpreende, no entanto, é um eventual acordo entre China e Estados Unidos, depois de semanas de embates muito maiores entre as duas potências”, explica Passos.
O possível apaziguamento no embate entre Estados Unidos e China, aliás, é o responsável pelos novos recordes registrados na bolsa americana nesta tarde. Mais cedo, Trump declarou à bordo do Força Aérea Um, o avião oficial do presidente americano, que tem muito respeito pelo presidente Xi Jinping e que acredita que os dois chegarão a um acordo.
“A China está chegando e será muito interessante”, disse Trump. No início do mês, os EUA haviam anunciado tarifas adicionais de 100% sobre as importações chinesas. A guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo traz disrupção para todo o mercado global e para as cadeias de suprimento.
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