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Em uma reunião realizada nesta terça-feira (4), o Banco Central (BC) informou aos participantes do Drex, a versão digital do real, que a infraestrutura tecnológica baseada em blockchain será desativada. Na prática a decisão “congela” um dos principais projetos para modernizar transações entre instituições financeiras. Até a conclusão desse texto, o BC não havia se manifestado a respeito.
Apesar de ser alardeado apenas como a versão digital do real, o potencial de uso do Drex é muito maior, já que ele promete também mudar simplificar processos de compra e venda de imóveis e veículos, agilizar pedidos de crédito, inclusive rural, e reduzir a burocracia dos cartórios, entre diversos outros usos. A expectativa era a de que o sistema fosse implementado ainda neste ano, porém, agora não é certo sequer se ele terá continuidade.
Sob condição de anonimato, um dos participantes da reunião que participou das fases piloto 1 e 2 do Drex, disse à Forbes Brasil que o modelo técnico empregado foi considerado inseguro para os padrões do BC, além de seu alto custo. A arquitetura que estava sendo empregada era a Ethereum Virtual Machine (EVM), utilizando o Hyperledger Besu, que não se mostrou adequada.
O entendimento é que o desenho de arquitetura era inviável dentro das restrições atuais. Agora, se quiser levar adiante o projeto, o BC precisará olhar primeiro para os problemas de negócio antes de definir a tecnologia que fará mais sentido.
As fases do Drex e quem participa
O Drex, criado há 4 anos, vinha sendo testado desde as fases 1 e 2, com a colaboração de instituições financeiras, fintechs e empresas de tecnologia. O que elas faziam era propor soluções para que o projeto piloto rodasse. Uma terceira fase estava prevista antes da implementação do Drex.
Diversas empresas e consórcios participaram das fases iniciais. Entre os principais nomes envolvidos estão grandes bancos, como Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco, Santander, BTG Pactual, Banco BV, Caixa Econômica Federal, Banco Inter e Nubank.
Também participam instituições cooperativas, tais como a Sicoob, Sicredi, Unicred, Ailos e Cresol, além de empresas de tecnologia e infraestrutura de peso, como Microsoft, Google, AWS, Mastercard, Visa, CPqD e TecBan. B3, XP, MBPay e Nuclea também atuavam.
Bola já havia sido cantada
A decisão de desligar a camada blockchain foi antecipada por alguns sinais técnicos ainda no fim da fase anterior, mas ganhou caráter formal apenas nesta semana, segundo a fonte ouvida pela reportagem.
Especialistas indicam que existem outras alternativas no mercado que podem vir a ser empregadas, especialmente no campo das stablecoins e da tokenização de ativos. Esses temas vêm ganhando força globalmente. Conforme revelou reportagem da Forbes Brasil, cerca de 90% das moedas digitais em circulação no Brasil são stablecoins.
Apesar da repercussão entre os participantes, a decisão foi recebida com cautela e pragmatismo. O entendimento predominante é que o movimento não representa um recuo, mas sim uma mudança de rota estratégica. “O mercado está se movimentando, e o Drex precisa se alinhar a essa nova dinâmica”, avaliou um executivo do setor financeiro que também participou da reunião desta terça.
Alternativas
O ecossistema de tokenização no Brasil continua ativo. A Anbima, por exemplo, lançou há duas semanas uma nova iniciativa voltada à digitalização de ativos, sinalizando que o setor privado segue avançando, independentemente do ritmo do Banco Central.
Ainda não há clareza sobre como será a fase 3 do projeto, mas fontes indicam que o foco passará a ser o modelo de negócio e a interoperabilidade, mais do que a tecnologia em si.
A mensagem final do BC parece inequívoca: a escolha tecnológica deve ser consequência das necessidades do mercado, e não o ponto de partida.
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