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O setor do agronegócio brasileiro reagiu com preocupação ao anúncio da elevação da tarifa de importação para 50% para produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, feito pelo presidente norte-americano, Donald Trump, na noite desta quarta-feira (9). Caso a medida seja colocada em prática, os segmentos mais afetados seriam de café, suco de laranja e carnes.
Após o anúncio das tarifas, Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), disse que o consumidor de café dos EUA será onerado com o aumento tarifário. O país é o maior consumidor mundial de café, enquanto o Brasil é o principal produtor e exportador.
O mesmo pode acontecer com o suco de laranja. Na safra 2024/25, os EUA representaram 41,7% das exportações brasileiras do produto, somando US$ 1,31 bilhão (R$ 7,2 bilhões na cotação atual) em faturamento, segundo dados da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), entidade de indústrias brasileiras de suco de laranja (e outros cítricos).
Em nota, a CitrusBR disse que a tarifa representa um aumento de 533% sobre os US$ 415 (R$ 2.295,78) por tonelada que já eram cobrados sobre o suco brasileiro. “Considerando a cotação da Bolsa de Nova Iorque de ontem, cerca de US$ 2.600 (R$ 14.385,80), ou 72% do valor total do produto, passariam a ser recolhidos em tributos, inviabilizando as exportações para aquele mercado sem que haja graves prejuízos para toda a cadeia. É uma condição insustentável para o setor.”
A entidade destaca que, ainda que a Europa seja o principal mercado do suco brasileiro, com 52% de participação nas exportações da safra 2024/25, é pouco provável que o destino seja capaz de absorver excedentes do mercado americano. Dados consolidados pela entidade mostram que em 2024 o volume destinado ao bloco europeu teve uma queda de 24% em relação à safra anterior.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), que tem JBS, Marfrig e Minerva entre seus associados, avaliou que qualquer aumento de tarifa sobre produtos brasileiros “deve impactar negativamente o setor produtivo da carne bovina e representar um entrave ao comércio internacional”. Para a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), a nova taxação colocaria o preço da tonelada da carne em cerca de US$ 8.600 (R$ 47.573,80), inviabilizando qualquer comercialização para o mercado americano.
Carlos Fávaro, ministro da Agricultura, chamou de “ação indecente” a nova taxação contra o Brasil e afirmou que o governo está “agindo de forma proativa” para buscar outros mercados. “Neste momento, estou buscando os mercados mais importantes do Oriente Médio, do Sul Asiático e do Sul Global, que têm grande potencial consumidor e podem ser uma alternativa para as exportações brasileiras”, disse Fávaro, que acrescentou que as ações diplomáticas do Brasil estão sendo tomadas em reciprocidade.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), entidade que representa produtores rurais do país, disse que está acompanhando a situação com cautela e defende um diálogo incessante e diplomático. “Esta medida unilateral não se justifica pelo histórico das relações comerciais entre Brasil e EUA, e será prejudicial a empresas e consumidores dos dois lados países”, afirmou em nota.
A Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) fez uma análise negativa do cenário e afirmou que não há justificativas para a imposição da nova tarifa. “Isso vai impactar negativamente toda a cadeia produtiva exportadora do Agro Brasileiro. Os setores de celulose, carne bovina, suco de laranja, açúcar e café, serão os principais produtos afetados”, disse em comunicado.
A Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) também fez o mesmo apelo e disse que o anúncio de Trump representa um alerta ao equilíbrio das relações comerciais e políticas entre os dois países. “A nova alíquota atinge o agronegócio nacional, com impactos no câmbio, aumento do custo de insumos importados e na competitividade das exportações brasileiras”, disse a FPA em comunicado. “Este é um momento de cautela, diplomacia afiada e presença ativa do Brasil na mesa de negociações.”
Apesar dos pedidos por diálogos, o governo brasileiro afirmou em resposta à carta de Donald Trump que “qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica“. Vale lembrar que a relatora da legislação é a senadora e ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina (PP-MS), que também faz parte da FPA. A proposta inclui questões ambientais e medidas comerciais e tarifárias, como resposta a sobretaxas impostas por parceiros como os EUA.
A Câmara Americana de Comércio (Amcham) disse que a nova tarifa pode causar impactos severos sobre empregos, produção, investimentos e cadeias produtivas integradas entre os dois países. “O comércio de bens e serviços entre as duas nações é fortemente complementar e tem gerado benefícios concretos para ambos os lados”, afirmou em nota. A entidade pediu a retomada dos diálogos com urgência.
O que pensam os produtores sobre a tarifa
Para Bruna Schlatter Zapparoli, jornalista e administradora da SZ Agropecuária, empresa que se dedica ao cultivo se soja, e integrante do think tank Forbes MulherAgro (FMA), o anúncio de Trump de tarifa extra de 50% às exportações do Brasil é um ataque à soberania do País. “Não há qualquer justificativa comercial, já que os EUA são superavitários em relação a nós desde 2009″, disse em entrevista à Forbes. “Trump quer o agronegócio e a economia brasileira enfraquecidos, quer interferir na nossa relação comercial com a China. Nada disso é razoável”, afirma.
Simone Silotti, produtora rural e uma das 40 mulheres que fazem parte do FMA, diz que a nova tarifa pode prejudicar o próprio consumidor norte-americano. “Com a taxação, a própria população americana vai pagar a conta. Imagino que terão dificuldades de “cortar o consumo” porque são produtos básicos. Parece uma estratégia impopular”.
Sheila Albuquerque, CEO da VitalForce, empresa brasileira que atua no desenvolvimento de bioinsumos e soluções biológicas, acredita que o presidente dos EUA ficou preocupado com as recentes movimentações do BRICS, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O grupo se reuniu nos dias 6 e 7 de julho na 17ª Cúpula, no Rio de Janeiro, e soltou a primeira declaração da reunião com críticas à imposição de tarifas. “Trump pode ter visto isso como uma ameaça direta à hegemonia americana. E, como sua resposta tende a vir com retaliação, é razoável supor que ele comece por quem oferece menor resistência e menor custo geopolítico: o Brasil”, afirma.
Vendo do outro lado da moeda, Maressa Vilela, produtora rural e membro do FMA, analisa os impactos da tarifa e de uma possível retaliação do Brasil com preocupação: “O Brasil representa 0,9% das importações americanas, o que mostra que não somos relevantes para eles. Por outro lado, nós importamos 16% deles, sendo o segundo principal fornecedor para nós”, diz.
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