Contrarretaliações, o Que Esse Palavrão Pode Significar para o Agro na América Latina e Caribe

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No dia 21 de julho, a Trade Law Daily, que pertence à da International Trade Today, uma plataforma de informações sobre processos judiciais e afins nos EUA, divulgou que a Johanna Foods (também chamada Johanna Beverage Company), distribuidora de suco de laranja de Nova Jersey, ajuizou uma ação na Corte de Comércio Internacional (CIT) em 18 de julho.

A empresa contesta a sobretaxa de 50% imposta pelo presidente Donald Trump sobre produtos brasileiros, incluindo o suco de laranja. A empresa solicita medidas preventivas, entre declaratórias e injuntivas, o que significa solicitar a uma corte que declare formalmente os direitos das partes envolvidas e que impeçam de forma temporária ou permanentemente uma ação considerada lesiva, como a entrada em vigor de uma tarifa.

Desde que retornou à Casa Branca, a política americana tem retomado uma agenda comercial marcada pelo unilateralismo e pela imposição de tarifas. O movimento reacende o risco de novas guerras comerciais e coloca os países da América Latina e Caribe (ALC) diante de um cenário de instabilidade e oportunidades, em especial o Brasil, depois do anúncio da tarifa de 50% no dia 9 de julho e vigência a ppartir de 1º de agosto de 2025.

Essa é a leitura do estudo produzido por Joseph Glauber, pesquisador emérito do IFPRI (International Food Policy Research Institute), e Juan Pablo Gianatiempo, analista da Unidade de Mercados, Comércio e Instituições da mesma entidade. O documento montado no início de 2025 analisa os efeitos imediatos e potenciais da política tarifária em curso, com foco no comércio de produtos agrícolas.

O socorro pedido pela Johanna Foods é apenas a ponta do iceberg e mostra como as políticas tarifárias em curso podem ter efeitos já observados no passado recente, em disputas semelhantes. Mostra, também, que a continuidade desse movimento dependerá da capacidade de reação política e diplomática dos países, e da agilidade comercial e da solidez logística das cadeias produtivas nacionais.

Entre 2021 e 2023, os Estados Unidos importaram mais de US$ 72 bilhões em alimentos da região da ALC, dos quais US$ 42 bilhões do México. Países com acordos de livre comércio com os EUA, como Chile, Colômbia, Peru e República Dominicana, registraram um total de US$ 15 bilhões. Além do impasse com o Brasil, já em curso, os analistas preveem que uma nova rodada de tarifas pode afetar significativamente essas exportações, especialmente se as medidas forem aplicadas de forma generalizada. Já se forem direcionadas a países específicos, como México ou China, podem abrir espaço para outros fornecedores da região ocuparem mercados estratégicos.

O estudo destaca que o Brasil e a Argentina, embora tenham baixa dependência direta dos Estados Unidos no volume total das exportações agrícolas – 4% e 3%, respectivamente, em 2023 –, possuem setores expostos. Os EUA importaram mais de US$ 1,7 bilhão em café brasileiro no último ano, além de quase US$ 700 milhões em suco de laranja. Tarifas aplicadas a essas cadeias podem causar perdas pontuais e exigir realinhamentos comerciais.

Contrarretaliações e suas consequências

Um exemplo são os efeitos das ações contrarretaliatórias impostas contra os EUA a partir de 2018. Naquele ano, em resposta às tarifas unilaterais americanas, países como China, Canadá, México, União Europeia, Índia e Turquia aplicaram tarifas sobre produtos agrícolas dos Estados Unidos. Essas medidas atingiram exportações estimadas em quase US$ 30 bilhões, incluindo carnes, grãos, laticínios, bebidas e produtos processados.

Os impactos dessas contrarretaliações foram concretos. Entre 2021 e 2023, mais de 75% das exportações americanas de milho, 73% da soja e 55% da carne suína tiveram como destino os quatro mercados que retaliaram, sendo eles a China, Canadá, México e União Europeia. Ao restringirem a entrada desses produtos, criaram espaço para outros fornecedores. O Brasil, nesse contexto, ampliou a presença na soja, milho, carne suína, bovina e de frango; a Argentina avançou em milho, trigo e carne; o Uruguai cresceu nos laticínios.

A guerra comercial com a China, iniciada em 2018, exemplifica o que está em jogo. A participação dos EUA nas importações chinesas de soja caiu de 34% em 2017 para 19% em 2019. Com as contrarretaliações, o Brasil, no sentido inverso, aumentou sua fatia de 53% para 75% no mesmo período, com crescimento de 29% nas exportações. Entre 2018 e 2020, a área plantada com soja no Brasil cresceu 4 milhões de hectares, enquanto os Estados Unidos reduziram sua área em 5 milhões, resultado direto da perda de mercado e da queda nos preços internos.

Para os analistas do IFPRI, um novo ciclo de tarifas e contrarretaliações, como o que se desenha sob a atual gestão Trump, tende a provocar novamente distorções nos fluxos de comércio global. No curto prazo, os exportadores da ALC podem encontrar dificuldades para substituir os volumes americanos nos mercados afetados. Mas a experiência recente indica que, com ajustes, podem se beneficiar dos preços mais altos e da reconfiguração da demanda.

A conclusão do estudo é que, embora o impacto sobre países como México, que concentram suas vendas no mercado americano, deva ser profundo, nações com menor exposição direta, como Brasil e Argentina, podem encontrar espaço para crescer. O risco maior recai sobre os produtores dos Estados Unidos, à medida que contrarretaliações comecem a surtir efeito. A imposição de tarifas tende a encarecer os alimentos para os consumidores domésticos e reduzir a competitividade dos exportadores. Se houver resposta dos parceiros comerciais, os produtores americanos enfrentarão preços mais baixos e perda de mercado, como ocorreu entre 2018 e 2019.

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